terça-feira, 23 de março de 2010

O Ladrão




Não posso contrariar a maré, se ela vai por aí, eu vou.
Mas insisto em outras ramagens cultivar o que o mundo se esqueceu.
São os buracos diários das ruas humanas.
E nessa contramão sigo eu, um lápis na mão,
Um nó na garganta, um desconsolo silenciado.
Ele roubou a padaria, disse que tinha fome,
E trabalho não tinha, mas não trabalhou duro no assalto?
Programou, pensou, agiu, foi rápido e teve êxito!
Deveria ser gerente de alguma indústria têxtil, oras...
Penso em como faria Jesus...
Ele também remava contra a maré.
Apesar de já ter velejado com uns homens bem pecadores,
O Deus dormia ali, naquele barquinho...
Aquele ladrão, além do pão, precisava de amor...
E Jesus navegava, outro dia:
-“Pedro, vem até mim por sobre as águas”...
Quem sabe, ao invés de gerente, o ex-ladrão pudesse ser pescador...
Como “ex”? Roubou há apenas dez minutos, e a única coisa que sabemos dele,
É que calça trinta e nove; deixou escapar suas chinelas velhas...
O que Ele faria em meu lugar?
Talvez o convidasse a pescar também, oferecendo-lhe uma peixada no jantar,
Em uma nova entrevista, como fizera com João, o discípulo amado...
Porque era amado?
Parece-me que entre tantos, Ele apreciava muito os ladrões,
É que a melhor estratégia ainda é o amor...

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