quarta-feira, 24 de março de 2010

Uma Estrela e uma Saudade




Uma estrela e uma saudade



Hoje havia no céu uma estrela solitária. Estranho, havia outros milhões delas. Mas ali estava ela sem saber, servindo –se de inspiração aos poetas e luz ao coração dos apaixonados. Nem mesmo a lua pode desviar-me a atenção, embora cheia se insinuasse com um cheiro de mel. Embora fizesse parte do conjunto que formava a noite fria e calculista, parecia-se isolada, como quem quer o céu só para si. Apesar de bela, demonstrava-se triste, como se toda ela fosse uma enorme gota de lágrima esperando alguma coisa, alguém. Brilhava intensamente, ingênua e misteriosa.
Sabe-se lá de onde ela caiu, assim convidativa, á beira do grande negro vazio chamado universo. Donde desprendeu-se? Quem a despediu? O que lhe trazia tristeza nos olhos?
Parecia-me que sua calamidade maior era tudo ter, mas nada querer. Ter o brilho e não querê-lo, era uma ironia, misto de ansiedade e busca. Uma cadente passara rápida, rasgando o nada com fogo e luz, e nada disso a despertara. Estava silente, despretenciosa e timidamente calada.
O tempo parecia-lhe inexistente, o frio confidente, o silêncio intrínseco. As nuvens tornaram-se passageiras de primeira mão, viajantes da umidade e ela do infinito, sem querer a companhia daquelas que dividem a mesma imensidão.
Porque poeira cósmica te indignas com tudo em derredor?
E a noite ainda derramava-se. E a cada segundo a aventura ficava mais intensa, e demorada e incompreensível.
A sinfonia da noite não passava, inquietante no silêncio, a música que a estrela mais queria ouvir.
O grande buraco negro se fez profundo, e ela não queria saber seu tamanho.
O relógio de plutão desenhou-se no céu, e a estrela não queria saber que horas eram. Queria ainda o sono estelar que a levaria ao eterno esquecimento.
Acordei de meu sono recostado á janela, com pelo menos a consciência que estrelas não pensam, nem se preocupam com horários. Olhei pra mim, minha vida, bateu-me uma saudade, forte, mas não localizada, sem saber do que ao certo. Uma coisa parecida com uma certeza me veio, e foi a de não querer ser tão semelhante a uma estrela.

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