quarta-feira, 24 de março de 2010
Os Dois Anjos
Dois anjos conversavam por umas frestas imensamente azuladas no vasto céu de anil, quando umidamente uma leve chuva de primavera começava a cair das maiores nuvens. Como vagamente compreendemos, entre os três céus existentes nesse magnífico universo de Deus, eles se achavam exatamente em um canto da extremidade do segundo, que por uma medida angelical, estava distante do terceiro, cerca de setenta e sete asas abertas. Isso corresponde a uma pequena distância para eles; se encontravam praticamente nos quintais eternos do criador, enquanto tal distância representa um caminho um tanto maior para os humanos.
As poeiras cósmicas obviamente lhes são mais conhecidas. Já puderam percorrer longos trajetos aos mundos desconhecidos, e agora riam por saber ter conhecido mais outras tantas belezas.
Sempre as contemplam. Não possuíam muitas palavras para traduzir o tamanho do infinito, afinal, é infinito. E não sabiam retratar ainda mais, a grandeza Daquele que projetara tudo aquilo. E por tal silêncio, santo e reconhecedor, apenas diziam no coração em uma alegria: Santo, Santo, Santo é o Senhor.
E o que mais é motivo de uma intrigante observação desses seres, é que quanto mais olham para aquilo que fizera seu Senhor, mais ainda O amam; e quanto mais meditam em Seu amor, mais ainda repetem essa eterna canção: Santo, Santo, Santo é o Senhor. Imagine esses dois que já pisaram o solo da lua, sem que houvesse como houve para os humanos, uma enorme descoberta e conquista. Pisaram lá. E a sua bandeira era simplesmente tremulada ao peito, em um amor real por aquele que moldara aquele satélite. Ficaram felizes por conhecer mais um lugar, sim, houve a descoberta, mas banhada a um louvor ao Criador, não em um orgulho desnorteado e egoísta.
É por isso que eles sentem uma espécie de pena e compaixão fraterna por nós. Vêem esses homens lutando por coisas e engrandecendo outras, com propósitos completamente descompassados. E sabem ao fundo que, não passa isso de ser, a continuação pela história das conseqüências maléficas do pecado.
Falavam disso quando se assentaram para um repouso, nos anéis de Saturno. Como eles nos queriam ajudar! Abrir-nos os olhos, pregar o evangelho, soprar amor; mas pelas razões existentes, não podem realizar por excelência certas coisas que queriam. Mas voltando ao azul em que se encontravam, tinham palavras impronunciáveis a dizer. Sabe lá nas sagradas escrituras, em Coríntios, “olhos nenhum viram, e ouvidos nenhum ouviram, e jamais passou pela entendimento do homem, aquilo que Deus preparou para aqueles que O amam”? É disso que estou falando. Palavras indizíveis, inefáveis. Eles as contavam em uma eterna brisa de santidade e renovação, pelas contínuas, não digo diárias, surpresas que lhes faz o seu Senhor.
Continuas, pois os intentos celestes sempre estiveram, desde as longínquas e temporais estações, exatamente fora do tempo, das horas, das marcações todas. O que se diz é que lá no céu não existem relógios, calendários, ampulhetas, ou qualquer que seja algum aparato de localização da linha do tempo. E tudo isso quer dizer que o próprio tempo, é Deus quem organiza, e possui todas as épocas, dos mundos, de tudo, em séculos e segundos, nas palmas de Suas mãos, pois dele, também é Senhor.
E por essa onisciência divina, magnânima e confortadora, mais uma vez em tom reverente e afável, eles continuavam: Santo, Santo, Santo é o Senhor!
-Como Deus sabe e possui todos os sonhos desses Seus filhos nas mãos, e como Ele trabalha com esse amor incompreensível a fim de abençoá-los!- Dizia um deles, ao que o outro respondeu:
-Sim, e como Ele quer lhes ensinar o amor...
No instante desse diálogo, umas antífonas maravilhosas derramaram-se do terceiro céu pelas fretas azuladas, convidando-os a voltar para louvar ao Senhor, junto com seus outros irmãos...
-Vamos, é a hora...
-Sim vamos. Continuemos de lá a interceder por eles, já que somos alunos e filhos do amor também. Desse amor que não se compra, não se vende, não se rouba, mas que é dado de graça, ternamente, em um olhar...
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