quarta-feira, 24 de março de 2010
A Pata da Cadela
A Pata da Cadela
Um certo mendigo da rua dos trevos, presenciou o pobre animalzinho ser atropelado por um maluco numa motoca. O desafortunado ordinário sequer olhou para traz, acelerou o irritante motor e sumiu, por uma avenida esburacada.
O Zé Estopa Furada, como era conhecido, cuidou das chagas da cadelinha, estacando o sangramento com os trapos de sua camisa, que era estampada com uma propaganda eleitoral a favor de um vereador, que dizia em umas letras tortas:
“Vote nº190 João da Lambreta, Seja humano e não entre pelo cano!”
O Zé nem sabia que possivelmente vestia a camisa do candidato cafageste. O fato é que a ironia nos dias modernos é um tanto presente. O que se sabe é que era ele sim o agressor, se involuntário, fato não justificador a ser omisso. E foi eleito por míseros 5 ou 6 votos. Mas a cadelinha não morreu. Vive hoje contente dia e noite, com o seu novo dono, o Zé Estopa.
Esse homem sujo e encardido, de unhas compridas, sem trabalho, casa ou mulher, foi uma espécie de bom samaritano. Ele que precisava de alguém que lhe amparasse, foi o que as pessoas costumam chamar, “anjo da guarda”. E o foi de uma cadelinha, talvez não tão suja quanto ele. A questão é que muitos poderiam aprender com ele, e quem sabe pedirem limpeza por dentro, para serem tão limpos interiormente como é esse miserável.
Ele a batizou de Noivinha.
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